Os
amigos não precisam estar ao lado para justificar a lealdade. Mandar relatórios
do que estão fazendo para mostrar preocupação.
Os
amigos são para toda a vida, ainda que não estejam conosco a vida inteira.
Temos o
costume de confundir amizade com onipresença e exigimos que as pessoas estejam
sempre por perto, de plantão.
Amizade
não é dependência, submissão. Não se têm amigos para concordar na íntegra, mas
para revisar os rascunhos e duvidar da letra.
É
independência, é respeito, é pedir uma opinião que não seja igual, uma
experiência diferente.
Se o
amigo desaparece por semanas, imediatamente se conclui que ele ficou chateado
por alguma coisa. Diante de ausências mais longas e severas, cobramos telefonemas
e visitas. E já se está falando mal dele por falta de notícias. Logo dele que
nunca fez nada de errado!
O que é
mais importante: a proximidade física ou afetiva? A proximidade física nem
sempre é afetiva.
Amigo
pode ser um álibi ou cúmplice ou um bajulador ou um oportunista, ambicionando
interesses que não o da simples troca e convívio.
Amigo
mesmo demora a ser descoberto.
É a
permanência de seus conselhos e apoio que dirão de sua perenidade.
Amigo
mesmo modifica a nossa história, chega a nos combater pela verdade e
discernimento, supera condicionamentos e conluios.
São
capazes de brigar com a gente pelo nosso bem-estar.
Assim
como há os amigos imaginários da infância, há os amigos invisíveis na
maturidade.
Aqueles
que não estão perto podem estar dentro.
Tenho
amigos que nunca mais vi, que nunca mais recebi novidades e os valorizo com o
frescor de um encontro recente.
Não vou
mentir a eles “vamos nos ligar?” num esbarrão de rua.
Muito
menos dar desculpas esfarrapadas ao distanciamento.
Eles me
ajudaram e não necessitam atualizar o cadastro para que sejam lembrados. Ou
passar em casa todo o final de semana e me convidar para ser padrinho de
casamento, dos filhos, dos netos, dos bisnetos.
Caso
encontrá-los, haverá a empatia da primeira vez, a empatia da última vez, a
empatia incessante de identificação.
Amigos
me salvaram da fossa, amigos me salvaram das drogas, amigos me salvaram da
inveja, amigos me salvaram da precipitação, amigos me salvaram das brigas,
amigos me salvaram de mim.
Os
amigos são próprios de fases: da rua, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio,
da faculdade, do futebol, da poesia, do emprego, da dança, dos cursos de
inglês, da capoeira, da academia, do blog. Significativos em cada etapa de
formação.
Não
estão em nossa frente diariamente, mas estão em nossa personalidade,
determinando, de modo imperceptível, as nossas atitudes.
Quantas
juras foram feitas em bares a amigos, bêbados e trôpegos?
Amigo é
o que fica depois da ressaca. É glicose no sangue. A serenidade.